domingo, 9 de setembro de 2012

O CAMINHO DO GUERREIRO COMO UM PARADIGMA FILOSÓFICO–PRÁTICO


 
 O CAMINHO DO GUERREIRO COMO UM PARADIGMA FILOSÓFICO-PRÁTICO

Em cada um de nossos diários, se discutirá uma premissa do caminho do guerreiro.

SOMOS PERCEPTORES. De acordo com o que don Juan ensinou a seus discípulos, esta é a primeira premissa do caminho do guerreiro. Parece ser uma afirmação tautológica: uma reafirmação do óbvio; algo como dizer que um homem calvo é alguém que não tem pelo. Mas o que temos aqui não é algo tautológico. No mundo dos xamãs, isto se refere ao fato de que somos organismos cuja orientação básica é perceber. Somos preceptores, e isto, de acordo com os xamãs, é a única fonte a partir da qual podemos estabelecer nossa estabilidade e obter nossa orientação no mundo.
 Don Juan explicava a seus discípulos que, como organismos, os seres humanos realizam uma manobra estupenda que, desgraçadamente, confere à sua percepção uma falsa fachada. Os seres humanos tomam o fluxo de energia pura e o convertem em dados sensórios que interpretam seguindo um sistema estrito de interpretação que os xamãs chamam de a forma humana. Este ato mágico de interpretar energia pura produz a falsa fachada: nossa peculiar convicção de que nosso sistema interpretativo é tudo que existe. Don Juan explicou que uma árvore, tal qual nós conhecemos como árvore, é uma questão mais de interpretar do que de perceber. Dizia que para tratar com uma árvore, tudo o que necessitamos é um olhar superficial que não nos diz quase nada acerca desta. O resto é um fenômeno que ele descrevia como chamar o intento: o intento de árvore quer dizer a interpretação de dados sensórios pertencentes a este específico fenômeno que chamamos árvore.
E como neste exemplo, para nós o mundo inteiro está composto por um repertório interminável de interpretações em que nossos sentidos desempenham um papel mínimo. Em outras palavras, somente o nosso sentido visual toca o fluxo de energia que é o universo e o faz de maneira unicamente mínima. Os xamãs asseguram que a maior parte de nossa atividade perceptual é interpretação; sustentam que os seres humanos são a classe de organismos que necessita um mínimo de estímulo de percepção pura para poder criar seu mundo, ou que percebem somente o suficiente para servir a seu sistema de interpretação. Assegurar que somos preceptores é uma tentativa dos xamãs de nos impulsionar novamente a nossa ordem, de nos impulsionar novamente ao que deveria ser nossa posição original: perceber.

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